sábado, 31 de janeiro de 2009

Água: Gota a Gota.

A água, recurso natural, solvente universal e fundamental para a vida na Terra, está se tornando cada vez mais escassa aos olhos dos leigos. Todavia, é de consenso da comunidade científica que a volume de água no planeta é constante: não se cria tão pouco se destrói a água. O que há são métodos de aproveitamento que a deixam imprópria para novos usos e o próprio uso indiscriminado. Neste caso, é correto dizer: a água POTÁVEL está diminuindo. Outro caso importante a ser observado é a irregularidade e a má distribuição da chuva, que, por exemplo, provocou seca no Acre (2005-06) e enchentes em Santa Catarina (2008-09). Associado a isso também está a demanda localizada quer seja por grandes centros urbanos, industriais ou agrícolas. Neste contexto, a agricultura desempenha papel importante, pois, é sabido que de toda água consumida no planeta, 69% vai para o uso agrícola, 21% para o uso industrial e 10% para o uso doméstico. Mesmo sendo a agricultura a nossa principal fábrica natural de alimentos ela não tem prioridade de uso da água; é considerado prioritário o uso doméstico, o que gera conflitos.

Diante de tantos problemas relacionados à oferta de água o ser humano, munido de sua magnífica criatividade, vem desenvolvendo técnicas diversas de aproveitamento e produção desse precioso líquido que vai desde a dessalinização da água do mar até ao derretimento de blocos de gelo provenientes das calotas polares. Na bacia do Rio São Francisco (Brasil), por exemplo, existe um projeto que incentiva os agricultores a desenvolverem práticas que aumentem a infiltração da água das chuvas. Essa técnica aliada a métodos de conservação do solo contribui para o aumento da recarga do lençol freático. Técnica similar foi adota numa vila Indiana onde pescadores sofriam com a seca. Lá, os moradores fizeram buracos em seus próprios quintais para acumular a água da chuva o que aumentou a recarga do lençol freático e assim conseguiram ressuscitar os riachos locais e amenizaram o problema da seca.

Rio São Francisco - Fonte: www.google.com/image

Outra curiosa técnica de produção de água foi desenvolvida pelo Departamento de Agricultura do Chile. Nas montanhas ao redor de uma comunidade no litoral chileno, na região do deserto do Atacama, mais precisamente na vila de Chungungo, foram instaladas redes de Nylon que funcionam como captadoras de água da nevoa. Isso mesmo: a nevoa (neblina) em contato com a rede forma gotículas de água que escorrem até uma calha e desta, por tubulação, é direcionada a um reservatório.

Chungungo, Chile - Fonte: GoogleEarth

Segundo informação do artigo “A era da falta d’água” publicado na Superinteressante em JUL/2000, a produção média chega a 3 L/m²/dia e o tamanho usual das redes é de 48 m² o que dá uma produção diária de 144 litros ou 6 L/h. Para efeito de comparação 6 L/h é a vazão de um gotejador de média vazão.

Redes Captadoras da Água da Nevoa, Chungungo - Fonte: www.google.com/image

Em Cuiabá, capital do Estado de Mato Grosso, o funcionário público e estudante de direito Júlio Cesar da Silva, identificou mais uma possibilidade de produção de água. SILVA observou a água que gotejava do ar condicionado e resolveu coletá-la. Obteve, em média, 20 litros de água em 8 horas de funcionamento do aparelho durante a noite. O mesmo relata que utiliza está água para lavar roupa, limpar a casa e regar plantas. Se você transformar a medida de SILVA em vazão verá que esta corresponde à de um gotejador de baixa vazão (2,5 L/h). Utilizando uma proveta graduada de 50 mL e um cronômetro foi medida a vazão de alguns dos aparelhos de ar condicionado da Universidade do Estado de Mato Grosso - UNEMAT, e foram encontrados valores entre 0,9 e 2,7 L/h.

O volume coletado no ar condicionado é pequeno, mas se considerarmos uma evapotranspiração média de 5 mm/dia veremos que um aparelho de ar condicionado consegue atender à demanda hídrica de uma superfície de 4 m². Para um residência esses 4 m² podem ser o jardim. Todavia, sabemos que muitas residências possuem mais de um aparelho de ar condicionado e que o mesmo pode funcionar por mais de 8 horas diárias. Como exemplo, uma casa que possui 3 aparelhos de ar condicionado funcionando 10 horas por dia pode produzir 75 litros de água o que já atende a uma área irrigada de 15 m², considerando a mesma evapotranspiração. Se começamos a pensar em escala maior percebemos que esta coleta de água pode ser significativa. E se tivemos que viver na mesma região árida do Atacama, como vivem os pescadores chilenos de Chungungo, essa coleta seria mais que significativa. Seria necessária.

Comparada com a colheita de água da névoa 3 aparelhos de ar condicionado podem ser mais produtivos em termos de quantidade e com obtenção e utilização mais fácil. No caso da Vila de Chungungo a água é transportada em tubulação por 6 km até o local de consumo.

Como não temos dificuldade extrema de obtenção de água outra maneira de aproveitamento dessa, proveniente do ar condicionado, seria a irrigação de jardins verticais, técnica já conhecida Pelos europeus e que vem ganhado espaço também no Brasil.

Jardim Vertical: Aux An Provance, França


A Arquiteta Gislaine Medeiros Messiara desenvolveu um tipo de jardim vertical para ambientes internos que chamou de “quadro vivo”. O “quadro vivo” atende à demanda de áreas verdes em apartamentos e condomínios fechados sem a desvantagem de ocupar espaço horizontal onde o m² construído é demasiadamente caro. O sistema desenvolvido por MESSIARA traz um reservatório de água e um micro sistema de bombeamento que recircula a água obedecendo a um calendário programável. A associação desse tipo de jardim com a água produzida pelo ar condicionado é uma solução interessante e importante para prédios, principalmente nos grandes centros.


Quadro Vivo - Fonte: www.google.com/image

Para nós pesquisadores da área de Irrigação, Drenagem e Recursos Hídricos em geral surgem algumas dúvidas que poderiam ser respondidas com a pesquisa:
* Qual é a relação da produção de água com a potência do aparelho, a umidade relativa e a taxa de renovação do ar dentro do ambiente?
* Qual é a qualidade dessa água?

Estas dúvidas e outras deixarei para reflexão dos leitores.

Acesse o link abaixo para ver o Quadro Vivo desenvolvido por MESSIARA.
http://www.faustaoosinventores.globolog.com.br/

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